30/11/2013

Ignorantes somos todos. Apenas que alguns com mais dentes que outros.


Quando eu penso que Lula, Dilma e outros PTs foram eleitos por milhões de "semi-analfabetos, desdentados e ignorantes", com a promessa de que este últimos receberiam benesses tais como bolsas, cotas, cestas básicas e outros benefícios, penso "AINDA BEM!". Eles finalmente aprenderam a votar.

Ao contrário dos que afirmam que a culpa é dessa gente inferior não sabe votar - uma grande besteira - eu diria que eles sabem votar muito bem. Elegeram quem prometeu a eles tudo que queriam: comida na mesa e eletrodomésticos na sala. E ignoraram solenemente aqueles que tentaram empurrar-lhes aquele discursinho liberal de mercado, meritocrático, aquela novela das 8, fantasiosa, onde a empregada doméstica, por um feliz acaso do destino, casa-se com o patrão e fica rica.
Eles aprenderam a votar.

Votei no PT, e agora eu mordo.

Entenderam finalmente que um camelô que vira mega-empresário faz parte de um conto-de-fadas tão difícil de se realizar quanto acertar na mega-sena. Entenderam que 99% deles nunca chegaria a Sílvio Santos, pagodeiro famoso ou jogador de futebol bem pago, as únicas opções de sucesso que nossa sociedade reserva pra eles.

Resolveram votar em alguém que desse a eles aquilo que todos nós temos à disposição todos os dias. Espera um pouco, "DESSE"!?, do verbo DAR!? O correto não seria "CONQUISTAR-COM-ESFORÇO-PRÓPRIO", verbo tão conjugado por aqueles, cuja grande conquista foi simplesmente não fracassar num contexto que, via de regra, envolve uma escola paga pelo pai, faculdade e a escolha daquele emprego que paga mais.
E teve um amigo meu que disse que pegou muito ônibus lotado na vida pra ir de Interlagos até o Mackenzie, antes de poder se formar e comprar um carro com o suor do seu próprio esforço... Entendo, deve ter sido bem difícil. (E não estou irônico, mas notem que há grande diferença entre algo que é difícil e algo que é impossível.)

"Ah, mas eu estudei em escola pública minha vida toda." É mesmo? Qual escola pública? Aquela da periferia, que não tinha nem professores, quem dirá carteiras escolares? Ou aquela do bairro de classe média (ainda que baixa), onde sua família morava? Já posso parar por aqui, ou é preciso falar mais um pouco sobre essas diferenças?

"Ah, mas com esmolas o Brasil não cresce", dizem aqueles que, claro, são os únicos a se beneficiarem com tal crescimento, e que fazem parte da turma recém-formada, rebentos da geração que dizia que precisávamos fazer o bolo crescer para só então dividir. Bem, na opinião de muitos esse bolo já está bem crescido, mas poucos parecem interessados em dividí-lo, mesmo que lhes seja garantida a fatia com cobertura.

É cedo ainda pra dizer que a farra acabou e que de agora em diante teremos mais pratos na mesa, mas seria infantil e manhoso - pra não dizer, um pouco prepotente -, imaginar que teríamos para sempre governos cujo único foco de atenção está na classe produtiva-intelectual-educada, que representa um percentual ínfimo dessa vastidão populacional que é o Brasil.
Esse povo todo, essa massa de desdentados ignorantes, precisa ainda de muitos anos de governo que olhe para eles.

Me perdoem o texto tão longo. Eu podia ter escrito apenas uma ou duas linhas, dizendo que IGUALDADE, JUSTIÇA SOCIAL e DESENVOLVIMENTO HUMANO são melhores do que segregação, exploração e preconceito, mas fiquei com medo que alguém não entendesse.

29/03/2012

A greve geral, a dos porteiros e a das prostitutas.


(adaptado do Igualzinho ao Brasil, de Isabela Sperandio, um simpático blog que compara situações análogas entre Brasil e Espanha)

Isabela é minha amiga, mora na Espanha a 4 anos e enfrenta, como todos por lá, sua segunda greve geral.

Foto publicada hoje no Twitter de @domigosanpedro, original de Gustavo Ribas
Ela lembra bem da primeira. Teve problemas com o metrô, teve medo que piqueteiros lhe dissessem alguma coisa pensando que ela fosse uma fura-greve. Viu fábricas fechadas, com multidões na frente segurando faixas e cartazes. O grupo de comunicação em que trabalhava não conseguiu nem distribuir o seu jornal naquela manhã, porque os manifestantes não permitiram que os caminhões saíssem da gráfica.

Neste ano, por motivos pessoais, ela está trabalhando. Logo, está vendo a greve pela TV, e por isso não sabe dizer qual é o clima das ruas, mas novamente se impressionou muito, pois ela vem de Curitiba, uma cidade de apáticos que sempre dizem "sim" e aplaudem corruptos e ladrões em troca de um punhado de dinheiro, um posto em um gabinete, exposição pública ou mesmo em troca de nada.

Durante a manhã, a oposição espanhola dizia que a greve foi um fracasso e que apenas 20% da população aderiu à greve. Lá, 20% é considerado um fracasso tremendo. Agora, tente imaginar uma manifestação curitibana em que 20% da população participe? Seriam mais de 50.000 pessoas na rua. Pois é... estive na última manifestação contra a corrupção (mal que assola a todos, e não só aos que precisam de melhores salários) e não havia nem 200 pessoas.


ENQUANTO ISSO, CURITIBA FAZ ANIVERSÁRIO
São 319 anos e pelo menos os últimos 10, até onde minha memória alcança, são de desorganização, ignorância, marketing e corrupção.

Uma cidade de quase 2 milhões de pessoas, onde muitos ainda não têm acesso ao saneamento básico e à educação, mas mesmo assim o governo investe massivamente em publicidade e eventos para convencer todo mundo de que Curitiba é um modelo de gestão e boas idéias. Só se forem boas idéias de como fazer da população uma platéia de imbecis. Com tantos anos de publicidade institucional, os poucos que tem educação e saneamento básico parecem esquecer de que os demais são parte da mesma "cidade modelo".

Em Curitiba, o "primeiro mundo brasileiro", quem faz greve são porteiros e zeladores. Eles pedem, entre outras coisas, "reajuste de 15% ainda que a própria presidente do Sindicato da Habitação e dos Condomínios, Liliana Ribas Tavarnaro, afirme que não há condições para conceder tal reajuste, pois Condomínio não é empresa.”

Alguém avise à essa senhora que quando os porteiros pararem ela mesma terá que abrir as portas do seu edifício e limpar o seu elevador, como fazem as pessoas na Europa onde as greves são decentes, e onde ela passa férias de inverno com seu marido, achando tudo lindo, exemplar e um modelo a ser seguido .

Aqui na cidade modelo, quem não é modelo é invisível. Ninguém vai se unir para apoiar a classe dos porteiros, que nem sequer parecem ser considerados funcionários pela própria presidente do seu Sindicato.


E AS PROSTITUTAS?
Na Europa, o direito à greve é utilizado até por aqueles que no Brasil são motivos de risadas, como os porteiros e/ou as prostitutas.



Ontem, prostitutas de luxo fecharam as pernas e iniciaram um protesto para conseguir linhas de créditos às famílias carentes (!).Elas decidiram que não vão mais fazer sexo com banqueiros, com a intenção de "pressionar o setor", e querem que os banqueiros "cumpram suas responsabilidades sociais".

Não Europa, os banqueiros parecem ser as pessoas mais mal vistas na atualidade. Ser filho da puta já não tem problema, elas têm dignidade.... e não a vendem para um qualquer.

As prostitutas fecham as pernas e os porteiros não abrem as portas. Grande parte de Curitiba aplaude a sua própria hipocrisia e falta de educação, celebrando o seu aniversário. Greve? Curitiba parece ter problemas chiques demais, para se preocupar com política, cortes salariais, direitos sociais e educação pública.

Na cidade modelo, no sul do sul do mundo, todos estão ocupados em exibir vídeos publicitários mostrando como a sua cidade é bonita, enquanto deveriam estar lendo um livro para entender que criticar e se indignar é uma prova de amor muito maior do que maquiar problemas.

Curitiba, orgulhosa de sua ascendência européia, não tem muitos motivos para festejar o seu 319º aniversário. Deveria aprender com  as prostitutas, com os porteiros e com os mais velhos (e a Espanha está dando exemplo hoje) que exigir dignidade, respeito e qualidade de vida para todos, sim, é um motivo para comemorar.

14/03/2012

Ah se todos os comics fosse assim.

He-Man todo mundo conhece. O super herói de Etérnia, que de dia é Adam, um apático e atrapalhado  príncipe, sempre seguido de perto pelo seu pet-boiola gato Pacato; e à noite (ou quando as trevas se acercam) é He-Man, um misto de Ted Boy Marino com Donatella Versace depois de uma sessão de bronzeamento. Tem mais alguns personagens com nomes sofríveis tipo Mentor, Gorpo (wtf?!) e Maligna, todos tão péssimos quanto a tradução de seus nomes.
O fato é que a criançada dos anos 80 adorava esse desenho, mas isso porque a criançada daquela época adorava qualquer porcaria que passasse na televisão.

SURPRESA AGRADÁVEL
Há algum tempo, procurando imagens do He-Man na internet pra fazer um job sobre a fase trash dos anos 80, dou de cara com um material excelente: uma releitura fantástica de todos os personagens do desenho.
Infelizmente não descobri ainda quem é o(a) autor(a), mas já adianto que o trabalho foi MUITO BEM FEITO.
Todos os personagens ganharam uma história nova, inclusive com uma abordagem psicológica e um background muito bem elaborado (o Gorpo, o paspalho voador, é na verdade Orko, o espírito de um mago assassinado pelo Esqueleto e que, de alguma forma, conseguiu voltar ao reino dos vivos, porém sem uma forma física).
Além disso, o artista também produziu ilustrações fantásticas (logo abaixo) dos personagens, que dão a eles uma estética que vai muito além do aceitável para qualquer adulto com senso crítico avançado.
Ah, entre outras coisas, também é possível descobrir os nomes originais dos personagens, o que faz deles figuras bem menos absurdas.

Uma mistura de Conan com Iggy Pop, este he-man magrelo e soturno até que funcionaria numa refilmagens que os marmanjos lotam os cinemas para assistir.


Esse cara se chamava Abelhão. Não dá pra respeitar um vilão com esse nome.

Desse aqui eu não lembro, mas a julgar pelo aspecto devia se chamar Lagostão, ou coisa que o valha.

Nesta versão a "Maligna" até que dá um caldo.



Man-at-Arms, na versão brasileira virou Mentor. Foda...

Este é sensacional! Chega a ser patético e triste.


Esqueleto numa versão andrógina. Quase uma drag queen do mal.





24/10/2011

Direita ou Esquerda? Os grandes temas voltam à tona.

A dislexia moral que afeta o poder público e a imprensa desta cidade.

Ontem foi dia de protestar contra a  nova ciclofaixa de Curitiba.

As razões pra isso eram muitas; entre elas: a mediocridade do projeto, que com seus míseros 4 km não atende nem de perto as mínimas exigências dos ciclistas; a periodicidade quase bissexta de uma ciclofaixa que só funcionará durante um domingo por mês; a ânsia marketeira da administração pública, que como de costume transforma vento em louros, numa alquimia publicitária que já perdeu há décadas qualquer resto de escrúpulo que pudesse ter. E por aí vai... Alguns ainda dirão que a pretensa ciclofaixa seria uma tentativa da Prefeitura de enfraquecer o movimento ciclista, ao dar uma justificativa placêbica à sociedade e assim tentar curar a carência dos ciclistas e bla bla bla.

Todos esses  foram bons motivos para protestar no dia de ontem. E viraram palavras de ordem, e foram berrados até na porta da casa do prefeito da cidade.

O que não foi, nem de perto, motivo da manifestação, é o lado da rua onde estava instalada a polêmica ciclofaixa. Então eu pergunto: por que esse assunto foi abordado com destaque em todas as matérias veiculadas na imprensa hoje?  Lado esquerdo da via, lado direito da via,  legislação, código brasileiro de trânsito. A mídia bateu nessa tecla sem trégua, como se essa fosse a motivação que tiraria centenas de pessoas de casa para protestar durante mais de quatro horas num domingo de manhã.

Pessoalmente eu vejo isso como uma tentativa de esconder as verdadeiras razões do protesto, ao mesmo tempo em que evitam as óbvias críticas com as quais teriam que lidar se nem tivessem divulgado a manifestação.

Deixo abaixo uma reportagem muito ilustrativa dessa distorção dos fatos. Destaco algumas pérolas, tais como chamar de "ciclistas" os gatos pingados domingueiros que andaram pela ciclofaixa oficial e, por outro lado, chamar apenas de "insatisfeitos" os manifestantes, esses sim ciclistas de todos dias.

Mais pra frente entrevistam motoristas, que dizem achar ótima a ciclofaixa. Claro, como não achariam?, se ela só vai lhes tomar um pedaço da rua durante 8 horas por mês, ainda por cima num domingo!

Para completar mencionam, literalmente, que "o problema é que a ciclofaixa foi pintada do lado esquerdo da via, contrariando o código trânsito, que diz que ela deve ser do lado direito. E para protestar justamente contra isso é que um grupo de ciclistas percorreu o trajeto fora das demarcações da ciclofaixa".

Honestamente, isso é uma vergonha. É uma farsa jornalística. Primeiro, porque nem sequer consultaram o código de trânsito. Do contrário saberiam que não há nada de irregular em uma ciclofaixa do lado esquerdo. Segundo, por relacionarem as motivações do protesto a esse tema insignificante. Terceiro, porque não entrevistaram sequer um manifestante; ou se entrevistaram, cortaram isso na edição tendenciosa que fizeram.

Nosso poder público é uma vergonha disfarçada pelo verniz publicitário. Nossa imprensa é uma vergonha que nem se dá ao trabalho de se disfarçar.


Um rolê noturno pelo Dia dos Mortos

El Dia de Los Muertos é festejado no México de um jeito bem diferente do que Finados aqui no Brasil.
Lá as pessoas  usam máscaras, pintam o rosto, vestem roupas típicas e vão em massa aos cemitérios, onde comem, bebem, cantam e dançam, na esperança de levar um pouco de alegria aos seus mortos - e a eles próprios, claro.
Aqui no Brasil, boa parte das pessoas se veste de preto, chora e vai aos cemitérios lamentar a morte dos outros. Outra boa parte desconhece o significado da data e acha que é só um feriado, e fica na torcida pra que ele caia numa 6a-feira.


ROLÊ NOTURNO
Em Curitiba o buraco é 7 palmos mais embaixo. Aqui, como no México,  a turma quer diversão. Simbolicamente, os mortos saem para um rolê noturno de bicicleta, saindo do cemitério, circulando pela noite da cidade, apavorando aqueles com o coração fraco, desagradando aqueles com as bundas moles, e terminando ruidosamente na frente de algum bar que esteja aberto na madrugada. Como em Curitiba não são muitos os bares abertos a essa hora, alguns mortos-vivos já foram vistos em locais de reputação, digamos assim, duvidosa, à procura de alguma bebida pra encerrar a celebração. Não vou citar nomes em respeito aos finados.

A edição desse ano será no dia 01 de novembro. A concentração será no Cemitério Municipal, a partir das 23h30 e a saída está marcada para 23h59hs.


Típica máscara del Dia de
Dia de los Muertos.
Credit: Grimcinder
CAVEIRAS E MÁSCARAS MORTUÁRIAS
Os organizadores destacam que o evento não é inspirado em halloween norte-americano. Ou seja, máscaras e maquiagens de caveiras são muitíssimo bem vindas (bem ao estilo mexicano), mas se a sua idéia é tirar aquela fantasia de bruxa ou Freddie Krueger do armário, melhor escolher outro evento pra ir. Até porque, quem é que gostaria de pedalar lado a lado com alguém que parece saído de uma festinha de escola de idiomas?





EDIÇÃO ANTERIOR
A primeira edição, em 2010, foi supreendentemente bem aceita, e umas 50 almas penadas foram vistas pedalando em bando pela madrugada curitibana.Para este ano, há menos de 10 dias do evento já tem mais de 60 confirmados no evento marcado pelo Facebook.
 Abaixo segue um vídeo com os melhores momentos de 2010.


Pedalada de Los Muertos from Ata hostin on Vimeo.

ROLÊ NOTURNO DIA DE LOS MUERTOS
Data: 01 de novembro
Horário: 23h30
Local: Cemitério  Municipal de Curitiba.

07/10/2011

NÃO É FÁCIL ACABAR COM STEVE JOBS; E NEM FALAR BEM DELE.


Mitos como Steve estão acima da bobagem midiática, dos slogans e dos trocadilhos bestas.

Steve Jobs morreu. Não há momento melhor para os fãs tecnomaníacos, cronistas de jornal e publicitários exercitarem a capacidade de criar elogios, títulos e belas campanhas. Eu, por outro lado, logo busquei um jeito de ser do contra, e ao longo de todo o dia fui escrevendo o texto que, definitivo, rebateria toda a bajulação típica dos post-mortem dos ídolos.
“Vou desconstruir o Jobs”, pensei na hora. Melhor, “vou destruir o Jobs”.



Deixei o texto incompleto, fui a uma festa, imaginando que na volta terminaria meu requiém às avessas. “O mito cairá por terra”, pensei, esfregando as mãos.



Pois bem, voltei da festa meio bêbado e sentimental e me dei conta de que eu não queria revirar o Steve do avesso. Jamais, eu amei esse cara! Por outro lado, também não queria engrossar o côro das carpideiras desocupadas ou dos publicitários aproveitadores e ficar desfiando só elogios bobos a esse grande sujeito. Porra, eu amei - e odiei - demais o Steve durante anos pra cair na esparrela fácil de simplesmente puxar o saco ou meter o pau. (ui, isso aí soa mal pra caramba.)


O que é genial no Steve é a determinação e a tenacidade com as quais ele perseguiu a qualidade total nos seus produtos e o modo inovador como sempre lidou com as barreiras que a tecnologia do seu tempo impunha. O mouse, a interface gráfica, o multi-touch foram os truques que ele tirava da sua cartola de mágico!

Ilusionista, é um termo que também não ficaria mal! Porque Jobs sempre criou a ilusão de que estava indo além, quando qualquer um sabe que ele ficava muito aquém daquilo que realmente poderia nos oferecer. Lançar o iPad sem câmera? Ah, faça-me o favor! Só para nos empurrar goela abaixo uma nova versão, minimamente aperfeiçoada. Isso para citar apenas um entre muitos exemplos.

De fato, o velho Steve sempre foi um cara com um tino empresarial impressionante que, aliás, salvou a Apple quando ela estava nos seus piores momentos. Imaginá-lo liquidando linhas inteiras de produção, mandando às favas os executivos engravatados e fomentando a qualidade criativa de suas equipes eram as marcas registradas do seu sucesso.

Mas, o que mais esperar de um empresário – e acionista, como Jobs – a não ser que ele faça o possível para transformar sua marca em uma das mais valiosas do mundo? Se a maioria dos empresários, designers e CEOs fizessem isso teríamos produtos melhores e mais inovadores saltando à nossa vista a cada esquina.

É verdade, mas poucos fazem isso. E o sagaz e genial Steve fazia. E fazia como ninguém. Sua paixão quase obsessiva pela qualidade, pelo acabamento, pela experiência não só de uso, mas também da recepção dos produtos, que fazia com que ele supervisionasse pessoalmente a produção das embalagens e revisasse durante semanas suas keynotes, foram toda a inspiração que eu busquei durante os anos de vazio pós faculdade, antes que encontrasse nele um mentor intelectual que mudaria meu mundo.

Está certo que o meu mundo, como de muitas outras pessoas,, é o dos negócios, da tecnologia pessoal e do consumo desenfreado. E preciso admitir uma boa dose de cretinice envolvida em confundir meu mundinho com O Mundo todo.  Deve ter uns 6 bilhões de pessoas que não estão no mundo de Jobs, o que o credencia apenas a ser o deus e guru dos marketeiros, dos publicitários, dos showmen, dos empresários em busca da auto-ajuda, dos designers de produto e dos aristo-tecno-maniácos, que encontraram nos seus produtos, lustrosamente caros, a forma ideal de diferenciarem-se do resto das pessoas normais, as que não são diferentes.

E era justamente com as diferentes que Steve gostava de falar. “Nossos produtos são feitos para os desajustados, os loucos, os rebeldes, os diferentes”, dizia ele. “Pessoas das quais podemos não gostar, mas que não podemos ignorar, pois elas mudam o mundo”, completa o famoso comercial Crazy Ones (Think Different), de 1997.

Tal comercial ainda falava que essas pessoas empurravam o mundo à frente. E isso Jobs também fazia muito bem, mas com um distorção perversa do seu próprio discurso. Na impulso desenfreado de faturar sempre mais e mais, criou produtos de inegável qualidade superior, porém com um ingrediente amargo: a obsolescência programada, cujo sabor residual é a insatisfação. A insatisfação e o vazio do pós-compra, que move as engrenagens do mundo no desperdício capitalista. E esse é um mundo que Jobs jamais quis mudar.

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Steve Jobs morreu. E deixou um vazio enorme, daqueles que só se formam no vácuo dos grandes gênios; aos que se odeia e/ou se ama.
Valeu, Steve. De um jeito ou de outro, você vai fazer muita falta.

15/03/2011

Vitória do atraso político

(Este texto é do professor Belmiro Valverde que, independente das posições políticas, tem opiniões que eu respeito bastante. O assunto abaixo é óbvio, mas não por isso menos escandaloso)

Os partidos atuais insistem em ser desimportantes e primam por desprezar lideranças que poderiam ter um papel modernizador, sufocando-as com ambições paroquiais ou regionais

Quem tem alguma idade e boa memória se lembra de uma época em que a economia brasileira era dominada por alguns demônios persistentes: o desabastecimento periódico do leite, da carne; os congelamentos e tabelamentos, o contingenciamento de exportações e de importações, o populismo salarial e sindical e a inflação absolutamente descontrolada. Nada disso existe mais. Aprendemos a desconfiar de fórmulas milagrosas de exorcismos para afugentar esses demônios, como o Plano Cruzado, o Plano Feijão com Arroz, o Plano Collor e outras tolices e tragédias. Aprendemos que exportar se consegue com competitividade e não depende, necessariamente, de uma paridade cambial favorável, que ajuda, mas não é indispensável, como prova o Japão há mais de trinta anos. E aprendemos que dar calote nos outros transforma os caloteiros em párias do mercado financeiro, como a Argentina está sabendo há quase dez anos.

O desfile das escolas de samba demonstra que também aprendemos em outras áreas, como a observância dos horários e dos calendários, o rigor dos detalhes e a perfeição dos conjuntos, a canalização da imaginação criativa e a riqueza do conhecimento empírico disseminado na população que teve menos oportunidades de educação formal. Em um país em que as unidades de tempo mais utilizadas são “qualquer dia desses”, “depois do Carnaval”, “na semana que vem” e “amanhã, mas não garanto”, mais de 60 mil figurantes desfilam em exatos 80 minutos, sem correrias nem atrasos, com fantasias impecáveis e carros alegóricos holywoodianos, movidos a feijão. Um assombro, de encher os olhos. O que Roberto DaMatta chamava de “organizações-cometas”, que têm um pequeno núcleo permanente, ao qual se junta uma enorme cauda na época do carnaval, hoje em dia é uma economia permanente que emprega milhares de pessoas e gera bilhões em faturamento.

Há, porém, uma área em que parecemos não avançar nada, que é a da política. Entra ano, sai ano, os hábitos políticos continuam a surpreender pela desfaçatez e pela imaginação criativa: cada vez que uma prática escandalosa é desnudada na imprensa, os nobres representantes do voto popular encontram outras maneiras de continuar a ordenhar a vaca leiteira do Erário e mamar nas tetas públicas. Os partidos nascem e morrem tratados apenas como animais de montaria temporária. Pensa-se agora, por exemplo, em um novo partido, o PDB, Partido da Democracia Brasileira. Mas, para quê? Para burlar a legislação eleitoral, permitindo que os que migrarem para esse novo aprisco não percam os mandatos por infidelidade partidária. No segundo momento, funde-se o novo partido com um já existente e voilà! , passa-se novamente a perna na Justiça Eleitoral. Um primor de esperteza, só isso.

Enquanto isso, os partidos atuais insistem em ser desimportantes e primam por desprezar lideranças que poderiam ter um papel modernizador, sufocando-as com ambições paroquiais ou regionais. Está acontecendo com Aécio Neves, marginalizado pela oligarquia paulista que, não satisfeita com a surra de 14 milhões de votos que levou de uma estreante em eleições, insiste em perder a próxima. E com Gustavo Fruet aqui em Curitiba, cujos 650 mil votos na capital estão sendo esnobados pelo seu partido, que prefere antecipar o debate eleitoral, fortalecendo as pretensões do atual prefeito Luciano Ducci do PSB. Mas que mal pergunte: os dirigentes de um partido não deveriam fazer força para que ele ganhe as eleições e não um partido concorrente?

Acho Luciano Ducci um ótimo administrador e um político habilíssimo, como demonstrou como secretário de Saúde, que tem todo direito de pretender a prefeitura. Além disso, quem está fazendo a lambança é o PSDB, não ele, que é apenas seu beneficiário. Mas considero um desrespeito com a democracia brasileira que alguém com as credenciais morais e políticas de Fruet e as esperanças dos 650 mil eleitores que votaram nele, sejam jogados no lixo pelas espertezas de campanário de alguns de nossos pais da pátria. É a vitória do atraso e do conchavo.

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do doutorado em Administração da PUCPR.

GAZETA DO POVO - 13/03/2011

O lixo só é um problema quando ele é um problema.

CENÁRIO: 150 mil toneladas de lixo orgânico despejadas diariamente em lixões e aterros sanitários de todas as cidades brasileiras, onde homens, mulheres e crianças vagam como zumbis atrás de dejetos e restos de comida. Além deles, as únicas formas de vida que se atrevem a passar por ali são cães doentes, ratos, urubus, insetos, piolhos e bactérias transmissores de febre tifóide, lepra, tétano e leptospirose.
O ar é irrespirável, porque da massa continental de lixo acumulada emanam gases de enxofre e metano capazes de intoxicar qualquer coisa viva a centena de metros de distância. O solo já está completamente morto pelo escoamento de milhares de litros de chorume, uma substância tóxica tão forte não só mata o solo, como todos os lençóis freáticos no subsolo.
Se alguém, em algum momento da sua vida, pensou em recriar uma versão terrena do inferno, com certeza ele pensou num lixão a céu aberto.

FATO: Nenhum governo tem uma solução adequada para esse problema; e por motivos muito simples (entre outros tantos bem mais cabeludos):
1) os governos são tacanhos demais para perceber que o lixo é uma fonte de riqueza imensa (a biomassa é usada para gerar energia em países desenvolvidos);
2) mesmo que soubessem disso, são incompetentes demais para elaborar um plano de ação e;
3) mesmo que tivessem um plano, são ineficientes demais para colocá-lo em prática.

Para não ter um surto depressivo frente a esse cenário tão desanimador, vamos supor que para o outro lixo, o reciclável, há alguma esperança e que alternativas já estão sendo colocadas em prática, como o exemplo de Curitiba, que por incentivo governamental já faz separação do lixo reciclável há quase 2 décadas.

Agora, quando o assunto é lixo orgânico, só mesmo um doido varrido pra achar que alguma solução virá pelo esgoto celeste dos palácios de governo. Aquela cambada não faz a menor idéia de como resolver esse problema, com excessão da óbvia (ineficaz e cara) ampliação dos aterros sanitários. E olha que essa é a melhor das hipóteses, já que só 8% do lixo vai para aterros sanitários; o resto vai pra lixões a céu aberto. (Pra quem ainda não sabe bem a diferença entre lixão e aterro sanitário, aqui tem uma explicação simples, mas muito boa. Mas já adianto, se o lixão é o inferno na terra, o aterro é o inferno escondido em baixo dela.)

O assunto, então, não é pra ser resolvido por governos. É pra ser resolvido por nós mesmos. Até porque somos nós que consumimos os produtos e alimentos que geraram esse lixo e, assim, devemos nos responsabilizar por ele. A gente deve, e pode muito bem, dar fim no nosso próprio lixo.

A COMPOSTAGEM DOMÉSTICA DE LIXO [fundo musical de harpas e coros de anjos]
A compostagem doméstica serve exatamente para isso: Dar fim no próprio lixo orgânico, decompondo-o em um material estável, rico em húmus e nutrientes. É um processo super simples, onde microorganismos atuam sobre o lixo orgânico "quebrando-o" em minúsculos pedaços e transformando-o em um composto benéfico, pronto para ser reabsorvido pelo meio ambiente. Sem cheiro ruim, sem chorume, sem insetos, sem cachorros doentes, pessoas-zumbis e nem nenhuma dessas coisas.


É FÁCIL COMEÇAR
O pessoal do meu prédio se organizou e combinou de separar o lixo orgânico e depositá-lo sempre numa composteira. O resultado foi que, em pouco mais de um ano, transformamos 1 tonelada de lixo orgânico em 200 quilos de adubo 100% orgânico.

1 TONELADA DE LIXO, que ao invés de entulharem o aterro da Caximba, VIRARAM 200 QUILOS de um composto orgânico extremamente fértil - chamado húmus - e foram adubar a horta nos fundos do nosso quintal. (a horta ficou feliz da vida)

Se alguém mais quiser experimentar essa alternativa limpa de lidar com esse assunto do lixo, eu explico tudo direitinho em outro post. Uma coisa eu garanto, é muito recompensador saber que de um jeito e de outro a gente não colabora mais com a sujeira da sociedade.


COMO FAZER uma compostagem doméstica

Ontem eu postei no facebook algumas fotos sobre a compostagem que estamos fazendo aqui no meu prédio, e nem imaginei que tanta gente pudesse achar isso legal e se interessar pelo assunto. Claro que eu fique super feliz, porque eu acredito muito nisso.

Entáo resolvi fazer este post, bem explicativo, sobre COMO FAZER UMA COMPOSTAGEM DOMÉSTICA. Vou detalhar tudo, tintin por tintin, pra que aqueles que queiram fazer a compostagem possam levar isso adiante sem nenhuma dificuldade.

Antes de mais nada, o que é compostagem? É um processo biológico através do qual microorganismos naturais presentes no meio ambiente, "atacam" o lixo, reduzindo (muito) seu volume, decompondo-o em partículas muito pequenas e isentas de agentes nocivos, transformando-o em um material estável, fertilizante e benéfico ao meio ambiente. Seria mais ou menos como ir a Brasília e fazer picadinho dos políticos corrutos: inteiros eles são um problema, em pedacinhos eles viram adubo pra terra. Essa é a explicação simplificada. Uma explicação mais completa vocês podem achar na Wikipedia.

O processo é básico e muito simples. Resumindo: é separar o lixo orgânico rico em nitrogênio e misturá-lo a restos vegetais ricos em carbono. A mistura das duas coisas gera o composto orgânico.

>> QUAL LIXO SERVE PARA A COMPOSTEIRA?
  • [N] Restos crus de vegetais (cascas, sementes, folhas...)
  • [N] Vegetais cozidos sem gordura
  • [N] Casca de ovo
  • [N/C] Pão
  • [N/C] Bolacha (bolacha recheada talvez não seja uma boa por conta da gordura)
  • [N/C] Farinha
  • [N] Bolos secos (fubá, laranja, cenoura...)
  • [N] Alimentos cozidos sem gordura (arroz, feijão, macarrão)
  • [C] Erva Mate
  • [C] Chá (inclusive os saquinhos, se forem de papel]
  • [C] Borra de café (inclusive o filtro)
  • [C] Cinzas e carvão moído
  • [C] Papel toalha sem gordura
  • [C] Guardanapos
  • [C] Jornal
  • [C] Restos de jardinagem (grama, folhas, flores e arbustos)
  • [C] Palha e Serragem
  • Papel higiênico não é uma boa, porque cocô não é lá uma coisa muito limpa e contém agentes patogênicos. (só funciona se você tiver minhocas envolvidas no processo de compostagem. Explico melhor lá na frente.)
As letras [C] e [N] determinam quais lixos são predominantemente ricos em Nitrogênio e Carbono. As letras [C/N] determinam aqueles que são equilibrados. Mais pra frente eu explico porque isso tem importância.

>> QUAL LIXO NÃO SERVE PARA A COMPOSTEIRA
  • Restos animais
  • Animais mortos
  • Restos de carne (qualquer carne)
  • Restos de óleo e gordura
  • Derivados do leite
  • Tortas e bolos com recheios cremosos e/ou gordurosos
  • Lixo reciclável (óbvio que não serve, mas não custa lembrar)
  • Bitucas de cigarro
  • Couro
  • Esmaltes, solventes e outros produtos químicos
  • Papel toalha engordurado
  • Restos de comida que contenham gordura (molho branco, por exemplo)
  • OBS. 1: Olhando assim, parece que muita coisa não vai para a composteira, mas na prática esses lixos que são os "proibidos" formam um volume muito pequeno do total de lixo gerado. Eles geram poucas sobras e seu consumo é, em geral, em menor quantidade.
  • OBS. 2: No entanto, é possível decompô-los também, mas o processo não é de compostagem e sim de biodigestão. Esse é um processo complicado, que eu ainda não domino, por isso nem vou tentar explicar. Mas esse seria o auge da destinação sustentável do lixo!

>> MATERIAL NECESSÁRIO PARA CONSTRUIR A COMPOSTEIRA (para uma casa de até 4 pessoas)
  • 2 caixas plásticas (dessas de feira, com o fundo e as laterais furadas)
  • 2 metros de tela sintética de jardim (com a trama bem fechada)
  • 1 pá ou garfo de jardinagem

>> CONSTRUÇÃO DA COMPOSTEIRA
Passo 1. Forre as caixas com a tela.
Passo 2. Não há um passo 2. É só isso. Pronto, a composteira está feita!

Dica: Para fixar a tela, você pode costurá-la nas bordas - aproveitando que a caixa tem vários furinhos -, ou prender com um arame ou elástico. (As minhas caixas foram costuradas nas bordas)

Dica 2: Procure não deixar espaços entre e tela e a caixa para que o lixo fique com seu peso apoiado sobre a caixa e não fique forçando a tela.


>> COMO "ALIMENTAR" SUA COMPOSTAGEM
É importante ter em mente que e proporção do lixo deve obedecer a regra de 2 partes de carbono para 1 parte de nitrogênio. Funciona como a alimentação das pessoas: nós comemos (ou deveríamos comer) uma pequena porção de proteínas e uma porção maior de fibras e carboidratos.
Lá em cima, na lista de lixos que podem ir na composteira, eu coloquei a letra [C] para os lixos ricos em carbono e a letra [N] para os lixos ricos em Nitrogênio. Leve isso em conta!


1. Forre o fundo da composteira com restos SECOS de jardinagem, e lixos de papéis, guardanapos, serragem, etc...

2. Deposite o lixo mais "úmido" por cima

3. Se possível cubra com um pouco de folhagens secas.




>> QUANDO A CAIXA FICAR LOTADA
Depois de um tempo, fazendo subsequentes camadas de lixo úmido, seco e terra, a caixa vai ficar completa.

1. Finalize com uma boa camada de folhas secas;

2. Deixe descansar por uns 60 dias, revirando 1x por semana

3. Enquanto isso recomece todo o processo com a outra caixa vazia.



>> O COMPOSTO MÁGICO!

Se você fez tudo direitinho, depois de uns dois meses já não será possível identificar nenhum tipo de lixo ou restos vegetais. Tudo vai estar com um aspecto bastante homogêneo, com exceção de galhos, espigas de milhos ou caroços muito grandes. Esses você pode separar e jogar em uma composteira nova. Depois de mais uma rodada eles certamente desaparecerão.
O aspecto final do composto deverá ficar parecido com a imagem acima.



>> O QUE FAZER COM O COMPOSTO
Eu guardei o composto em um latão para usar aos poucos no quintal, na horta e nos vasos de planta da casa. Mas se você não tiver nenhuma dessas opções, pode simplesmente despejá-lo num gramado da rua , pois ele é igual terra preta (aliás, é bem melhor). Espalhe bem, e com as primeiras chuvas ele será incorporado ao solo. Ah, o tal gramado vai ficar muito agradecido, e o seu lixo dos últimos meses vai embora para o solo de uma maneira limpa e 100% orgânica.


>> COMO SABER SE A COMPOSTAGEM ESTÁ LEGAL
  • TEMPERATURA: O composto deve ter um temperatura morna, sinal de que as reações químicas estão acontecendo.
    - Se estiver muito quente significa que está fermentando demais e os microorganismos estão torrando iguais vietnamitas sob uma chuva de napalm. Isso é ruim.
    - Se estiver muito fria não chega a ser um problema. Mas também vai demorar mais para a decomposição total. Provavelmente é falta de lixos-nitrogênio.
  • TEXTURA: O composto deve ter uma textura mais homogênea possível. Procure triturar um pouco os lixos antes de jogá-los na composteira.
    - Se estiver tudo meio embolotado e pegajoso não é muito bom. Remexa com mais frequência.
    - Se estiver afofado é um bom sinal.

>> PROBLEMAS COM A COMPOSTEIRA. COMO RESOLVER.
Problema: Está muito úmida; você remexe o conteúdo e ele parece um pudim de lixo.
Solução: Está faltando lixo tipo Carbono [C], que é a "massa". Coloque mais restos SECOS de jardim, ou serragem, ou jornal picado.

Problema: Está apresentando cheiro.
Solução: Tem muito lixo do tipo Nitrogênio. Novamente, capriche em coisas do tipo Carbono. Borra e filtros de café também ajudam. Lembre-se, essa é uma compostagem AERÓBICA, bem ventilada, e por isso náo deve apresentar cheiro nenhum!

Problema: está com uma catinga infernal.
Solução: Alguém jogou restos de carne ou laticínios na sua composteira. Remova os lixos errados da composteira, tirando também um pouco do lixo "bom" em volta só por precaução. Depois descubra o responsável pela sabotagem e ensine pra ele como se faz.

Problema: a sua segunda caixa já encheu, mas a primeira ainda não está com o composto pronto para ser retirado.
Solução 1: Você produz mais lixo do que eu calculei. Compre uma terceira caixa ou reduza o desperdício.
Solução 2: A relação carbono-nitrogênio está muito errada e o composto não vai pra frente. Não se preocupe, é normal não acertar logo na primeira vez. Com o tempo você aprende a "ler" os sinais e vai acertando. O importante é perseverar.


>> BONUS TRACK: Minhocas e a compostagem turbinada.
Minhocas são verdadeiros processadores de lixo e terra (e tudo mais que houver pela frente), capazes de comer o equivalente ao seu peso por dia.
É possível, em um estágio mais avançado, incluir minhocas em uma compostagem e obter HUMUS, que nada mais é do que cocô de minhoca. No entanto, esse cocô é o fertilizante 100% orgânico mais poderoso que existe. Tem aproximadamente 20x mais nitrogênio, potássio e fósforo do que qualquer terra normal, e é a melhor coisa que há para plantas de vasos e pequenas hortas (porque é meio caro para ser usado em grandes extensões).
No entanto, as minhocas produzem humus de graça. Você só precisa colocá-las na sua composteira na hora certa e elas vão transformar o composto em algo muito melhor.

>> BOTANDO A MINHOCA PRA DENTRO

1. Quando o conteúdo estiver a "meia-vida", ou seja, com os restos já semi decompostos é a hora certa;
2. Afofe bem o material deixando o mais homogêneo possível.
3. Cave um buraco a meia profundidade da caixa e deposite ali as minhocas. Numa caixa com uns 20 quilos, 200gr de minhoca já é o suficiente.
4. Tampe tudo e cubra toda a superfície com palha ou outros restos vegetais secos.
5. Cubra com uma lona preta, pois as minhocas são envergonhadas e gostam de fazer suas insinuâncias e hermafroditismos no escuro.
6. Cheque uma vez por semana a textura do composto, remexendo com cuidado.

Ele vai estar bom quando estiver com o aspecto da imagem acima, bem preto, soltinho e fininho.
Pronto! Isso é humus da melhor qualidade, feito com o SEU lixo. Esse você não joga fora num gramado da rua, ok? A não ser que seja o gramado de alguém que você goste muito.

Então é isso. Já são 4 da manhã, meu texto já está ficando um vexame e eu não consigo lembrar de nenhum outro detalhe que seja importante. Caso eu lembre, completo o post. Mas acreditem, aqui já tem o suficiente pra qualquer um dar seus primeiros, segundos e terceiros passos na compostagem doméstica de lixo.

Boa sorte aos que tentarem, melhor sorte ainda aos que não tentarem, e parabéns aos que tiverem persistência e obtiverem sucesso.
Valeu gente, vamos nessa por um mundo mais limpo e sustentável!

Um abraço,
Julian

PS.: se precisarem de ajuda, dicas ou diagnósticos à distância, podem comentar aqui no blog ou me mandar um email (irusta@gmail.com)

09/11/2010

Vamos de Azul ou Vermelho?


Tanto faz. No estado de permanente daltônismo ideológico em que vivemos, qualquer merda serve.

Nos dias antes da eleição recebi um desse emails corrente incitando as pessoas a vestirem-se de azul no dia do pleito para, entre outras coisas, mostrar que a maioria era AZUL e não VERMELHA, como afirmavam as ditas pesquisas compradas.

Nesses emails corrente, nunca sei o que me chama mais atenção; se é a falta de pudor com a ortografia, ou com os fatos. Por isso vou falar dos fatos, já que ortografia não se discute, se aprende. Extraí do texto e comentei a passagem mais perolática, a tal do azul e vermelho. Entre outras bobagens dizia assim: No dia 03 de outubro, quem não votar em Dilma, saia vestindo Azul. A cor da Paz, da Liberdade e da Verdade. E será um grande recado para essa turma, mesmo se ganharem.”

Pois bem, VERMELHO OU AZUL SÃO A MESMA BOSTA, E NÃO TEM NADA A VER COM PAZ

Primeiro porque azul não é e nunca foi a cor da Paz, da Verdade ou sei lá que outros conceitos fajutos.

Além do mais, já passou há muito tempo a época dessa besteira de “vermelho e azul”, “ameaça comunista e salvação ocidental”. Esse maniqueísmo bobo já não faz sentido nenhum, nem para o PT. Atentem para o fato de que na campanha da Dilma as cores predominantes são outras. O vermelho comunista nem sequer cabe mais na agenda neoliberal capitalista do novo PT de Lula.

E tem mais, Azul é, no Paraná, a cor da campanha do Beto Richa, um demagogo de merda que ninguém deveria apoiar nem para uma eleição de síndico ainda que as cores dele estivessem só na cueca.

Nesta campanha, provavelmente a pior que já tivemos, Azul ou Vermelho dão absolutamente na mesma. Para eleitores tão deploráveis como nós, sem nenhum conhecimento ou posicionamento ideológico, essa liturgia besta de vestir-se com esta ou aquela cor só serve pra optar entre o ruim e o pior. Quer protestar? Saia pelado. Pelo menos é verdadeiro.

15/06/2010


O Brasil das grandes causas.
Em época de Copa do Mundo aflora nossa vocação inegável para o engajamento a tudo aquilo que realmente importa.

Hoje acordamos todos mais brasileiros do que nunca. Bandeiras, vuvuzelas, cachecóis; tudo verde e amarelo. O espírito cívico tomou conta de todos. Hoje somos todos ultra brasileiros. Interessados, como nunca, nas grandes causas nacionais.
O mundo inteiro se rende a nós e reconhece nosso valor. Não é pra menos, afinal a maior top model brasileira do mundo é nossa, somos penta campeões, temos um trend topic mundial no Twitter (CALA BOCA GALVÃO nos orgulhou ao sair até no NY Times). Temos o Lula - que é o cara -, temos petróleo, temos samba, nosso BBB tem a maior audiência do mundo, temos gostosas de montão. Ser brasileiro é algo indescritível, e nossa contribuição para o mundo é inegável, está aí, na cara.
Isso só acontece porque somos engajados, participamos ativamente da vida do nosso país. Veja o meu exemplo: Acordei bem cedo e bem patriótico. Vesti meu gorrinho de lã verde e amarelo; já tuitei CALA A BOCA GALVÃO, para nos garantir o trend topic de hoje (o que é importante vem primeiro); já votei para eleger minha cerveja preferida (tá vendo? eu sei votar); já respondi certeiro a enquete do bolão (sou um cara informado), e já escalei a seleção pra hoje (sei escolher bem meus representantes).
Estou por dentro dos assuntos do Brasil, estou participando pra valer. Estou engajado nas grandes causas.