(adaptado do Igualzinho ao Brasil, de Isabela Sperandio, um simpático blog que compara situações análogas entre Brasil e Espanha)
Isabela é minha amiga, mora na Espanha a 4 anos e enfrenta, como todos por lá, sua segunda greve geral.
Foto publicada hoje no Twitter de @domigosanpedro, original de Gustavo Ribas. |
Neste ano, por motivos pessoais, ela está trabalhando. Logo, está vendo a greve pela TV, e por isso não sabe dizer qual é o clima das ruas, mas novamente se impressionou muito, pois ela vem de Curitiba, uma cidade de apáticos que sempre dizem "sim" e aplaudem corruptos e ladrões em troca de um punhado de dinheiro, um posto em um gabinete, exposição pública ou mesmo em troca de nada.
Durante a manhã, a oposição espanhola dizia que a greve foi um fracasso e que apenas 20% da população aderiu à greve. Lá, 20% é considerado um fracasso tremendo. Agora, tente imaginar uma manifestação curitibana em que 20% da população participe? Seriam mais de 50.000 pessoas na rua. Pois é... estive na última manifestação contra a corrupção (mal que assola a todos, e não só aos que precisam de melhores salários) e não havia nem 200 pessoas.
ENQUANTO ISSO, CURITIBA FAZ ANIVERSÁRIO
São 319 anos e pelo menos os últimos 10, até onde minha memória alcança, são de desorganização, ignorância, marketing e corrupção.
Uma cidade de quase 2 milhões de pessoas, onde muitos ainda não têm acesso ao saneamento básico e à educação, mas mesmo assim o governo investe massivamente em publicidade e eventos para convencer todo mundo de que Curitiba é um modelo de gestão e boas idéias. Só se forem boas idéias de como fazer da população uma platéia de imbecis. Com tantos anos de publicidade institucional, os poucos que tem educação e saneamento básico parecem esquecer de que os demais são parte da mesma "cidade modelo".
Em Curitiba, o "primeiro mundo brasileiro", quem faz greve são porteiros e zeladores. Eles pedem, entre outras coisas, "reajuste de 15% ainda que a própria presidente do Sindicato da Habitação e dos Condomínios, Liliana Ribas Tavarnaro, afirme que não há condições para conceder tal reajuste, pois Condomínio não é empresa.”
Alguém avise à essa senhora que quando os porteiros pararem ela mesma terá que abrir as portas do seu edifício e limpar o seu elevador, como fazem as pessoas na Europa onde as greves são decentes, e onde ela passa férias de inverno com seu marido, achando tudo lindo, exemplar e um modelo a ser seguido .
Aqui na cidade modelo, quem não é modelo é invisível. Ninguém vai se unir para apoiar a classe dos porteiros, que nem sequer parecem ser considerados funcionários pela própria presidente do seu Sindicato.
E AS PROSTITUTAS?
Na Europa, o direito à greve é utilizado até por aqueles que no Brasil são motivos de risadas, como os porteiros e/ou as prostitutas.
Ontem, prostitutas de luxo fecharam as pernas e iniciaram um protesto para conseguir linhas de créditos às famílias carentes (!).Elas decidiram que não vão mais fazer sexo com banqueiros, com a intenção de "pressionar o setor", e querem que os banqueiros "cumpram suas responsabilidades sociais".
Não Europa, os banqueiros parecem ser as pessoas mais mal vistas na atualidade. Ser filho da puta já não tem problema, elas têm dignidade.... e não a vendem para um qualquer.
As prostitutas fecham as pernas e os porteiros não abrem as portas. Grande parte de Curitiba aplaude a sua própria hipocrisia e falta de educação, celebrando o seu aniversário. Greve? Curitiba parece ter problemas chiques demais, para se preocupar com política, cortes salariais, direitos sociais e educação pública.
Na cidade modelo, no sul do sul do mundo, todos estão ocupados em exibir vídeos publicitários mostrando como a sua cidade é bonita, enquanto deveriam estar lendo um livro para entender que criticar e se indignar é uma prova de amor muito maior do que maquiar problemas.
Curitiba, orgulhosa de sua ascendência européia, não tem muitos motivos para festejar o seu 319º aniversário. Deveria aprender com as prostitutas, com os porteiros e com os mais velhos (e a Espanha está dando exemplo hoje) que exigir dignidade, respeito e qualidade de vida para todos, sim, é um motivo para comemorar.
Um comentário:
Não posso mais chamar banqueiro de filho da puta - seria uma injúria com as profissionais do sexo. Ótimo post, Irusta!
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