30/06/2007


"As duas Pracinhas do Batel "
ou "Independente de quem esperneie, as pessoas nascem mesmo é a pé"


Há duas semanas os tratores da Prefeitura estavam prontos para abrir a Pracinha do Batel ao meio. O motivo alegado era o de abrir a rua e fazer fluir melhor o trânsito. Não conseguiram. Quando chegaram lá toparam com um suposto manifestante agarrado ao um poste e meia dúzia de gatos pingados protestando ao lado.

Eu nem sei quem era o sujeito pendurado no poste, ou então quem eram seus pares de manifestação. Mas é bem provável que fossem moradores do bairro.

Claro que muitos devem ter achado essa cena cômica. E provavelmente essa pseudo manifestação ficou rotulada como uma reivindicação burguesa de habitantes burgueses de um bairro burguês. Gente que só pensa em manter sua tradicional pracinha, enquanto o "bem comum" é prejudicado por uma configuração viária obsoleta que causa engarrafamento e transtornos, certo? ERRADO. Aquele pessoalzinho do Batel estava certo, ainda que não soubessem porque.
A juíza que mais tarde deu ganho de caso à Prefeitura, o fez justificando que o bem individual dos "bateleiros" não podia se sobrepor ao bem comum. Mas que bem comum é esse?! Uma avenida mais larga e reta só é um bem comum às pessoas que tem carros. Uma praça sim é um bem comum à todos. Mesmo as pessoas que tem carros frequentam praças, ainda que cada vez menos.

E o grande problema desse episódio é que ele aconteceu na Pracinha do Batel, e a população taxou essa reivindicação de burguesa e egoísta. Ou seja, a lógica perversa brasileira de quem-tem-mais-pode-mais, desta vez agiu ao contrário e a legitimidade da manifestação foi diluída pelo status social de quem a expressou.

A fama elitista do Batel serviu apenas para ofuscar uma causa que é mais do que legítima: a de que as cidades são espaços urbanos destinados às pessoas. A todas elas. E as pessoas não nascem dentro de carros. Elas nascem a pé. Depois crescem, ganham dinheiro (ou passam no vestibular) e descolam um carro. Aí elas mudam sua natureza. Deixam de ser gente e passam a ser motoristas, e que se dane a natureza - dos outros, fique claro.

Curitiba tem 1 automóvel para cada 2 habitantes. Isso significa que metade da população passa cada vez mais tempo dentro dos carros, engarrafados, com a bunda flácida, limpando o nariz, olhando paranóicamente para os lados nos sinaleiros e achando que seus carros já estão ultrapassados a cada 18 meses.

Isso é o padrão de vida de 50% dos curitibanos. E os outros 50%, que andam à pé, com que padrão ficam? Com o dos motoristas, é claro! Nesta cidade, carros são mais importantes que pessoas, ou melhor, pessoas que têm carros são mais importantes do que as que não têm. Essas que se danem (ainda que sejam metade da população). Para que essas pessoas querem praças? Os curitibanos querem carros, cada vez mais carros e, logicamente, muitas ruas novas.

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