21/08/2008

Um Dia de Fúria
"Aí truta, eu quero um sanduba igual que o da foto."

Um Dia de Fúria - filme clássico dos anos 90 -, apresenta um sujeito comum que, num dia qualquer surta completamente e resolve desabafar de um jeito insano toda sua insatisfação contra tudo aquilo que na nossa sociedade é um pé no saco.
O cara, entre outras coisas, desce o sarrafo em dois vileiros punguistas, trapaceia um mendigo profissional e mete chumbo no carrinho de golfe de um velhote playboy. Assim fica difícil não simpatizar com o figura.
Mas uma das melhores partes é quando ele espeta uma metralhadora na cara de um balconista do McDonalds exigindo um sanduíche "igual ao da foto". É sensacional! Isso é algo que todo mundo gostaria de fazer (tirando a parte da metralhadora).
Não há quem possa negar que nunca ficou uma arara olhando para aquele sanduíche murcho, com o queijo grudado na caixinha e, em seguida, olha pra cima e vê uma foto daquele monumento reluzente, com quatro fatias de queijo derretendo e um alface que parece até radioativo de tão verde que é.
Pois eu decidi que amanhã mesmo vou num McDonalds, ou em qualquer outro fastfood que não tenha a infame frase "Imagens meramente ilustrativas" escrita na lateral das fotos do display (no Subway eu já vi que não tem) , só pra ver a cara do atendente quando eu disser que "quero um sanduíche i-dên-ti-co ao da fotografia" E ai do cara se ele disser que "não é foto, é 3D"!
Eu, que a essa altura já terei pago pela comida e estarei com o "Eu tô pagando" na ponta da língua, estarei me sentindo nas alturas, acenando para aquelas pessoas da fila que me apóiam maravilhados, e rindo (ou rosnando) para aquelas outras que, aos cochichos, querem que eu saia logo da frente pra eles pedirem um milkshake.
O gerente que por lei não poderá se negar a me servir (até estudei a tal da lei!) vai suar aquela redinha que eles usam na cabeça, montando artesanalmente um sanduíche igual ao da foto. E eu lá, feliz da vida por trazer justiça a esse mundo tão judiado.
No fim eu termino devolvendo o sanduíche perfeito e dizendo que perdi a fome, que nunca fui tão ultrajado assim, e que só vou ficar mesmo é com as batatas fritas, "a única coisa que presta nesta espelunca".
Ah!, mal posso esperar para sentir o gostinho de exercer a cidadania e os direitos! Viva os dias de fúria!

PS.: Plano B. Se eu perceber que o negócio não vai dar certo e que a coisa vai feder, digo que nem queria mesmo, que sou vegetariano e que ele pode enfiar o sanduíche onde achar melhor. E saio de fininho, ainda que as pessoas em volta pensem, na melhor da hipóteses, que sou um daqueles eco-ativistas defensores dos animais ou, na pior delas, um cara cujo cartão não foi aceito pela máquina.

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